H2C em Hong Kong - Parte II
Uma das coisas mais interessantes em fazer as malas e viajar é colher referências de como outras cidades se organizam para oferecer soluções para os seus habitantes. Como acabamos de voltar de Hong Kong, trazemos algumas reflexões.
Em termos de infraestrutura urbana, Hong Kong está na lista dos 10 primeiros países com o maior desenvolvimento sustentável. De acordo com o ArchDaily, "com pouco mais de 7 milhões de habitantes, o sistema de metrô de Hong Kong, o MTR, é considerado por alguns como o melhor do mundo. Um relatório indica que 90% de todas as viagem em Hong Kong são feitas no MTR. Também destaca as viagens de balsa, administrada por 11 companhias, que conecta a zona empresarial na ilha de Hong Kong com o resto da cidade."
Imagem de Hong Kong, China
Mesmo sendo pioneiros em infraestrutura, boa parte da ilha é preservada, com áreas verdes e tudo acessível: dos centros até os morros. Isso chamou a nossa atenção ao pensar que aqui no Brasil, o cenário é bem diferente.
É bastante curioso o fato de que quem inventou as leis de preservação das áreas verdes e as APPs (áreas de preservação permanente) aqui no Brasil, não pensou que esses locais poderiam ser alvo de construções irregulares. Os locais que geralmente têm a melhor vista da cidade, pouco a pouco acabaram se tornando insustentáveis, já que não existe infraestrutura de água, esgoto, acessibilidade e mobilidade urbana. Como consequência, todos nós perdemos como sociedade: perdemos as áreas verdes invadidas, que poderiam ser preservadas de maneira sustentável economicamente, a biodiversidade, os rios que foram poluídos e os impostos que não foram arrecadados.
Imagem do Rio de Janeiro, Brasil
Hong Kong, ao contrário, teve permissão para se desenvolver. Então, automaticamente, se você tem construções regularizadas no morro, por consequeência, será feita a infraestrutura de saneamento e transportes para chegar lá. É por isso que existem as escadarias que a gente falou no último post. Esta infraestrutura também dá acesso aos parques preservados e a biodiversidade fica garantida no meio urbano. Em meio a tantos prédios, existem florestas que proporcionam qualidade de vida para as pessoas e inumeras trilhas para conhecer.
Então refletimos: Fazer uma área de preservação dos morros realmente é a melhor solução? Ou ocupar de forma balanceada e equilibrada, como fez Hong Kong, não poderia ser a melhor saída?
Ao refletir sobre nosso país, lembramos de Medellín, na Colômbia, que, assim como no Brasil, os morros foram ocupados de forma irregular. Porém, recentemente a cidade se tornou um case de urbanismo por levar a infraestrutura de mobilidade urbana (Metro Cable) até o morro e proporcionar melhor qualidade de vida aos habitantes. Em busca de diminuir as zonas de risco e de promover mais segurança pública, a cidade construiu em 2012, uma biblioteca-parque dentro da favela e também escolas e espaços de convivência, qualificando os espaços públicos e trazendo a população para cuidar dele.
Imagem de Medellín, Colômbia
Existe um caminho, antes do desenho urbano, que é a legislação. Se não mudarmos as leis no Brasil, continuaremos a construir favelas nas áreas de APPs e deixaremos o nosso patrimônio histórico ruir. Infelizmente, não é o arquiteto e urbanista que desenha as cidades em conjunto com seus habitantes, são as leis mal escritas que desenham as nossas cidades.
De acordo com essa matéria da Vitruvius sobre Medellín, "os números surpreendem perante a realidade urbana. Em uma apreciação rápida, podemos considerar que mais de 60% do território urbano está constituído pelo que no Brasil chamamos de favelas, hoje urbanizadas. Mais de 95% da cidade possui saneamento, quase a totalidade possui água potável (é possível beber a água em todas as torneiras da cidade com absoluta confiança), energia elétrica e deságües pluviais, e ainda 70% dos domicílios possuem gás natural. O sistema é pré-pago e, para todos os habitantes, possuir o cartão da EPM é um símbolo de prestigio e de integração cidadã. Pelo estatuto da empresa, 55% do lucro é repassado para a prefeitura, sendo um dos principais suportes financeiros do desenvolvimento urbano."